sábado, 15 de março de 2008

Substâncias Psicoativas

Conforme definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) são considerados substâncias psicoativas todas aquelas de origem natural ou sintética, incluindo álcool, que uma vez utilizadas, modificam as percepções sensoriais.
Não fazemos distinções entre substâncias leves, pesadas, estimulantes, depressoras ou alucinógenas porque não consideramos o sintoma da dependência química através das substâncias psicoativas utilizadas, mas sim através da problemática humana que está por trás de tudo.

Isso não significa que ignoramos as substâncias químicas e os efeitos que estas causam às pessoas. Quando se faz necessário tratar sintomatologia que as drogas causam às pessoas, estas devem ser encaminhadas aos serviços médicos especializados.
Partimos do pressuposto que qualquer pessoa, se desejar verdadeiramente, pode parar de fazer uso de qualquer substância química sem que isso possa acarretar-lhe algum problema físico sério. A experiência nacional e internacional tem demonstrado que os sintomas da abstinência, podem ser "represados" dentro da Comunidade Terapêutica, na maioria dos casos, pela alta coesão do ambiente criado pelo grupo.

Dramatizar a crise de abstinência, muitas vezes, é um jogo das pessoas que querem parar de usar drogas porém não estão dispostas a lutar verdadeiramente para conseguir. Isso reforça o comportamento típico do dependente químico, ou seja, conseguir alguma coisa sem, na verdade, "lutar para", como é a dinâmica que a vida impõe a todos os seres humanos. A droga esconde o sentimento de incapacidade, falência, impotência etc e para que haja um processo de recuperação é necessário o abandono total de qualquer substâncias psicoativas (exceções para pessoas com comprometimentos neurológicos ou distúrbios psiquiátricos além do quadro da dependência química), mudança dos comportamentos e mudança de estilo de vida.

A dependência química não pode ser tratada com medicação alternativa para aliviar o sofrimento que a própria doença causa porque este tipo de medicação impede o dependente de entrar em contato consigo mesmo, perpetuando o seu estado de dependência. Nenhum dependente consegue fazer uso de substâncias psicoativas todos os dias na quantidade e qualidade que deseja; algumas vezes não faz uso por diversos dias e não morre por crise de abstinência.

Sabemos que a crise de abstinência pode ser sentida, mas o dependente, muitas vezes, quer impressionar para ver se consegue algum tipo de medicação alternativa quando não consegue obter a(s) dose(s) habitual(ais). O dependente não precisa de nossa compaixão ou pena pelo mal estar provocado pela crise de abstinência. A manipulação do dependente intensificando os próprios sintomas da crise é quase automática. Porém, quando eles demonstram o desejo de parar de usar e recebem a ajuda adequada, existe uma grande possibilidade de "deixar" a droga. Esse é o momento de oferecermos uma proposta alternativa e uma mudança de estilo de vida.

Devemos evitar intervenções confusas que podem prejudicar o dependente. A qualquer momento que o dependente não consiga ou não queira aceitar as propostas do programa deve ter a liberdade de fazer outras escolhas (é importante se fazer uma última tentativa no intuito de ajudá-lo a entender o porquê de outras escolhas) ou ser encaminhado a outras propostas. É importante evitarmos a confusão pois este é o terreno predileto do dependente.